💧 Cálculo de Fluidoterapia em Medicina Veterinária
📘 Introdução
A fluidoterapia é uma prática essencial na clínica veterinária, utilizada para restaurar o equilíbrio hídrico, tratar desidratação, manter a perfusão tecidual e fornecer suporte em diversas patologias.
O cálculo correto garante que o paciente receba volume adequado, de forma segura e eficaz, prevenindo complicações como sobrecarga hídrica ou hipovolemia.
🧮 Fórmulas Fundamentais
1. Déficit Hídrico
Déficit (mL) = Peso (kg) × Grau de desidratação (%) × 1.000
2. Manutenção
Manutenção (mL/dia) = Peso (kg) × 50 a 60 (mL/kg/dia)
🔁 Animais jovens podem exigir até 100 mL/kg/dia.
3. Perdas Contínuas (Estimadas)
Perdas (mL) = estimativa de perdas (vômitos, diarreias, etc.)
🔢 Fórmula Final de Fluidoterapia
Volume Total (24h) = Déficit + Manutenção + Perdas
Para administrar por hora:
Taxa de Infusão (mL/h) = Volume Total / 24
🐶 Exemplo Prático
Paciente:
- Espécie: Cão
- Peso: 15 kg
- Desidratação: 8%
- Perdas estimadas: 300 mL
- Fator de manutenção: 60 mL/kg/dia
Cálculo:
Déficit = 15 × 0,08 × 1.000 = 1.200 mL
Manutenção = 15 × 60 = 900 mL
Perdas = 300 mL
Volume total = 1.200 + 900 + 300 = 2.400 mL
Taxa = 2.400 / 24 = 100 mL/h
👉 Administrar 2.400 mL em 24h (100 mL/h)
🐾 Reposição do Déficit
O déficit é geralmente reposto da seguinte forma:
- 50% nas primeiras 6 horas
- Os outros 50% nas 18 horas seguintes
Déficit nas 6h iniciais: 1.200 ÷ 2 = 600 mL → 100 mL/h
⚠️ Atenção: A taxa total nas primeiras horas inclui o déficit + manutenção + perdas.
⏱️ Administração com Micro ou Macro Gotejador
Fórmula da Goteira:
Gotas/min = (Volume por hora × Fator de gotejamento) / 60
| Fator de Gotejamento | Tipo de equipo |
|---|---|
| 60 gotas/mL | Microgotas |
| 20 gotas/mL | Macrogotas |
Exemplo:
100 mL/h × 20 / 60 = 33 gotas/min (macrogotas)
📏 Tabela Rápida de Manutenção (60 mL/kg/dia)
| Peso (kg) | Volume Diário (mL) | Taxa por Hora (mL/h) |
|---|---|---|
| 2 | 120 | 5 |
| 5 | 300 | 12.5 |
| 10 | 600 | 25 |
| 15 | 900 | 37.5 |
| 20 | 1.200 | 50 |
🧠 Dicas Clínicas
- Sempre avaliar o plano após 4 a 6 horas de infusão.
- Monitore turgor da pele, mucosas e débito urinário.
- Em pacientes cardíacos, evite sobrecarga hídrica.
- Use bombas de infusão para precisão em animais pequenos.
⚠️ Erros Comuns
- Ignorar perdas contínuas (ex: vômitos, diarreia).
- Utilizar volume ou taxa padrão sem considerar peso e estado clínico.
- Não ajustar conforme reavaliação da hidratação.
- Superestimar desidratação (errando na porcentagem).
📚 Referências
- MICHELL, R. A. Fluidoterapia Veterinária. [S.l.]: Acribia, 1991.
- ANDRADE, S. F. Manual de Terapêutica Veterinária. 3. ed. [S.l.]: Roca, 2011.
- DEARO, A. C. O. et al. Fluidoterapia em grandes animais - Parte II: quantidade e vias de administração. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 4, n. 2, p. 11-17, 2001.
✅ Conclusão
A fluidoterapia exige uma avaliação individualizada e contínua. Utilizar fórmulas confiáveis, equipamentos adequados e acompanhar os sinais clínicos do paciente é fundamental para o sucesso terapêutico.
💧 Recomendações:
- Use calculadoras e protocolos atualizados.
- Reavalie frequentemente o plano de fluidos.
- Documente todas as alterações no volume e taxa.